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quarta-feira, 2 de maio de 2012

A MAÇONARIA OPERATIVA ESCOCESA

A LOJA DE KILWINNING

A tradição maçônica atribui a fundação da primeira Loja do Rito Escocês à
obscura aldeia de Kilwinning, lenda que não encontra mais aceitação entre os
historiadores. Entretanto, o que tinha dado certa aparência de base a essa
tradição é a existência nessa localidade de ruínas de uma abadia, destruída
durante a Reforma.

"A abadia. de Kilwinning acha-se situada na bahia de Cunningham, cerca de
três milhas ao norte do burgo real do Irving, próximo ao Mar da Irlanda. A
abadia foi fundada, no ano 1140, por Hugh Morville, Condestável da Escócia,
e dedicada a São Winning, sendo projetada por uma companhia de monges da
Tyronesian Order, mandada vir de Kelso. O edifício foi construído com muitas
despesas e muita magnificência, visto que, ao que se diz, tem ocupado vários
acres de terreno em sua total extensão." (l)

Lorenzo Frau Abrines afirma, todavia, que foi assim chamada uma torre da
Escócia, primeira construção dos Maçons daquele país. (2) Outros (3)
asseguram, porém, que a lenda surgiu do fato de se pretender que uma Loja
existiu, no século XV, ligada à abadia. Outra tradição nos chega através do
trabalho do Rev. W. Lee Ker, Mother Lodge of Kilwinning; do qual Albert
Lantoine reproduz uma passagem, na qual afirma o Reverendo existir
.. . "uma tradição que se acredita poder fazer remontar no ano 1658, pela
qual a Loja de Perth declara que o templo dos freemasons de Kilwinning era o
primeiro a ser instituído na Escócia e que esta tradição podia ser fixada no
ano 1190." (4)

Kilwinning foi envolvida em muitas lendas e supostas tradições,
confidenciadas por uns, sem qualquer prova, e aceitas por outros com toda a
boa fé, inclusive por escritores como Mackey. No entanto, historiadores
mordernos como o Ir:. D. Murray Lyon - que Mackey, a quem a lenda agradava
pela sua ligação com o Rito Escocês, trata de iconoclastas - destruiram não
somente esta, mas ainda outras lendas que lhe estavam ligadas, como a da
fraternidade secreta de Harodim, instituída por Robert Bruce rei da Escócia,
em Ki1winníng, tendo preferido trabalhar sobre documentos mais positivos e
sobretudo autênticos.

Entretanto, em 1598 e em 1599, foram poblicados os de-nominados Estatutos
Schaw, regulamentos decretados por William Schaw, Arquiteto do Rei e
Vigilante Geral dos Pedreiros da Escócia.

O primeiro é dirigido a todos os Maçons, o segundo, porém, estabelece a
antiguidade das Lojas então existentes na Escócia e estatui o seguinte:
"É declarado necessário e expediente por milord o vigilante geral que
Edimburgo será em todos os tempos, como anteriormente, considerada a
primeira Loja, e Kilwmning como a segunda, por ser notoriamente manifesto em
nossas antigas escrituras que era considerada como tal antes, e que Sterling
será a terceira, em conseqüência de antigos privilégios." (5)

Através dos estudos e pesquisas a que se dedicara o historiador inglês R.
F. Gould, a fim de estabelecer o histórico da Maçonaria na Escócia, tendo
por base as atas e os registros das lojas, verificou que enquanto a Loja de
Edimburgo conservava tais documentos desde o ano 1599, os da Loja de
datavam apenas de 1642.Este fato teve muita importância em 1736,
quando da convenção de Saint-Mary's Chapell, convocada para a fundação
da Grande Loja da Escócia.

Nesta ocasião, a Loja de apresentou a sua pretensão de ser a mais
antiga loja da Escócia e que tinha portanto direito de ser registrada, na
relação das Lojas, com o N.º 1. Não lhe foi possível, não obstante,
apresentar documentos hábeis que sustentas-sem estes pretensos direitos:
"Reivindicou uma primazia que a levou a ficar solitária de 1744 a 1807.

Agora, porém, aparece no começo da Lista das Lojas da Escócia, com o número
0 e a precedência de antes de 1598". (6)

OS BARÕES DE ROSLIN PATRONOS DA MAÇONARIA ESCOCESA

Um documento datado de 1601, ou seja uma das duas Cartas de Saint-Clair,
declara que os Senhores de Roslin eram desde séculos patronos e protetores
do Ofício de Pedreiro na Escócia, afirmando o Pocket Companion que o título
teria sido concedido em 1441 pelo Rei Jaime II da Escócia, à perpetuidade,
para ele e seus sucessores, a William Saint-Clair, Conde de Orkney e
Caithness, Barão de Roslin.

Aquele monarca teria também outorgado um direito de jurisdição aos mestres
das lojas da Escócia. Foram autorizados a estabelecerem tribunais
particulares em todas as grandes cidades e no interesse dos privilégios dos
pedreiros. Havia, porém, a obrigação de pagarem ao Estado uma taxa de quatro
libras escocesas percebida sobre cada pedreiro que passasse a mestre,
podendo, além disso, impor a cada novo membro um direito de recepção. (7)
William Saint-Clair era descendente de uma família francesa que acompanhara
Guilherme o Conquistador à Inglaterra. Sob o reinado de Jaime V (1513-1542)
da Escocia, pai de Maria Stuart, e humanista fervoroso, o Senhor de
Saint-Clair daquela época teria feito uma viagem à Itália. Voltara
entusiasmado pelo que vira, e logo mandou trazer construtores italianos a
quem confiou a edificação de uma capela no seu domínio de Roslin,
"Esta capela ainda hoje está em pé, admirada pelos visitantes pela
qualidade de seus ornatos arquitetônicos, onde resplandece todo o simbolismo
maçônico da época.

"Não satisfeito de construir uma capela, uniu-os aos pedreiros escoceses,
depois organizou-os em confraria, outorgando-lhes uma Carta. Desde então sob
a proteção do rei, que se teria nela filiado como membro honorário, ao que
parece, esta confraria teve grande desenvolvimento." (8) ,

Não sabemos que crédito podemos dar a esta informação de Berteloot, que
muito se parece às narrativas dos apologistas maçons do século XIX.
Limitamo-nos a reproduzi-la sem, garantir a sua autenticidade.

AS SAINT-CLAIR CHARTERS

São dois documentos do maior interesse da Maçonaria operativa escocesa. Um
de 1601, a que já nos refelimos, o outro de 1628.

O documento de 1601 contém uma petição em beneficio dos Senhores de Roslin,
afirmando que depois deles terem sido, durante século, patronos e protetores
do Ofício de Pedreiros na Escócia, esta tutela tinha sido deixada cair em
vacância de modo que, com a expressa autorização de William Saint-Clair,
quando o castelo de Roslin fora tomado e incendiado pelo Conde de Hertford,
os pedreiros escoceses resolveram outorgar aos barões de Saint-Clair nova

Carta de jurisdição sobre eles.

O novo documento, que não traz data, foi lavrado em Edimburgo pelo tabelião
Laurentius Robesom. Nele são reconhecidos e novamente confirmados todos os
privilégios e prerrogativas outorgados aos Saint-Clair pelo soberano do
Estado.

O outro documento, ou seja a Carta de 1628, confirmando o precedente de 1601
e completando-o, outorga a jurisdição de todos os pedreiros da Escócia à
família de Saint-Clair de Roslin. Foi assinado pelos representantes das
Lojas de Edimburgo, Dundee, Glasgow, Sterling, Dumfermline, Ayr e
Saint-Andrews.

Este último documento não chegou a ser reconhecido pela coroa, por ter o Rei
Carlos I indicado, em 1629, Sir Anthony Alexander para Mestre da Obra e
Vigilante Geral, e sumariamente posto de lado a pronta objeção de William
Saint-Clair. (10)

Como já dissemos, esta Carta está sem data, supondo Findel que ela deve
datar dos anos 1628 a 1630. E este historiador observa: "Por esses
documentos, verificamos que a Maçonaria operativa escocesa tornara-se uma
espécie de "companheirismo", destinado a manter entre os operários de um
agrupamento ou ofício as tradicionais práticas estabelecidas para o
exercício do mesmo".

A decadência que paulatinamente atingiu estas associações operativas
escocesas chegou a tal extremo que, em 1695 todas as antigas Lojas da
Escócia haviam cessado de trabalhar.

OS ESTATUTOS SCHAW

A Maçonaria escocesa não possuiu Old Charges como a sua congênere inglesa.
As poucas cópias encontradas foram visivelmente copiadas de fontes inglesas,
e uma ou duas concitam ingenuamente os profissionais escoceses a serem
leais ao Rei da Inglaterra. (11)

Não obstante, a Maçonaria escocesa possui outros documentos do período
operativo, como, por exemplo, as Cartas de Saint-Clair e, principalmente, os

Estatutos Schaw que nenhum outro supera.

Na qualidade de Mestre das Obras da Coroa da Escócia e Vigilante Geral dos
Pedreiros, William Schaw (1550-1602), que fora nomeado para este cargo, em
1593, por Jaime VI, promulgou dois regulamentos, em 1598 e 1599, os quais
organizavam a associação e regulamentavam a profissão.

O primeiro, datado de 28 de dezembro de 1598, está escrito em papel e
redigido em dialeto escocês:

Embora contendo substancialmente os regulamentos gerais encontrados nos
manuscritos ingleses, deles difere materialmente em muitos particulares.
Mestres, Companheiros e Aprendizes são claramente referidos, mas só como
gradações de posição, e não como graus, e a palavra Ludge ou Loja é
constantemente usada para definir o lugar de reunião." (12)

Este regulamento circulou por todas as lojas escocesas e uma cópia dele
consta do primeiro livro de atas da Loja Saint Mary's Chapell, de Edimburgo.

Outra cópia existe no livro de atas da adormecida Loja de Aitchinson's
Haven, enquanto o original desta e o segundo documento datado de 1599, são
conservados pela Loja de Kilwinning. (13) Bernard E. Jones nos fornece um
resumo deste célebre documento:

"Ordena-se aos Irmãos que observem as ordenações e sejam leais para com os
outros, obedientes aos Vigilantes, Diáconos e Mestres, sendo honestos,
diligentes e retos.

"Ninguém poderá tomar a seu cargo um trabalho a menos que possa completá-la
satisfatoriamente, e nenhum Mestre poderá suplantar outro, ou aceitar um
trabalho incompleto, sem que o primeiro Mestre seja devidamente
satisfeito.

"Será feita anualmente a eleição de um Vigilante. (14)

"Nenhum Mestre poderá ter mais de três Aprendizes no decorrer de sua vida e
o aprendiz não lhe deverá ser confiado por um espaço inferior a sete anos, e
não poderá ser feito Companheiro se não tiver servido por um espaço
adicional de sete anos. É proibido aos Mestres vender os seus Aprendizes ou
receber um Aprendiz sem informar o Vigilante da Loja para que o seu nome e
data de recepção sejam devidamente registrados.

"Nenhum Mestre ou Companheiro do Oficio poderá ser aceito ou admitido, a não
ser em presença de seis Mestres e dois Entered Apprentices, (15) sendo o
Vigilante da Loja um dos seis. A data deverá ser devidamente registrada e "o
seu nome e a sua marca (16) insertos" no referido livro, junto com os nomes
dos seis Mestres, dos Aprendizes e do Intendente.

"Ninguém poderia ser admitido sem um exame e uma prova de perícia. Um Mestre
não está autorizado a empregar-se em trabalho a cargo de outro artífice, ou
receber cowans (17) para trabalharem em sua sociedade ou companhia, ou
mandar algum de seus serventes trabalhar com eles. Os Aprendizes Entrados
não podem encarregar-se da execução de trabalhos acima do valor de dez
libras.

"Qualquer contenda entre Mestres, Companheiros e Aprendizes deverá ser
notificada à Loja dentro de vinte e quatro horas, e sua decisão aceita.
Mestres e outros são obrigados a todas as precauções indispensáveis na
montagem do andaime, e se ocorrerem acidentes por sua negligencia não
poderão atuar como Mestres, ficando sujeitos a outros.

"Os Mestres não poderão receber Aprendizes fugitivos.

"Todos os membros devem assistir às reuniões quando legalmente prevenidos, e
todos os Mestres presentes e qualquer assembléia ou reunião deverão jurar
"por seu grande juramento" não esconder ou ocultar qualquer prejuizo
causado a alguém ou ao proprietário do trabalho. Finalmente, as várias
multas atribuidas ao que precede devem ser cobradas e distribuídas pelos
oficiais da Loja." (18)

O segundo Estatuto de Schaw, como já vimos, determina que a Loja de
Edimburgo devia ser considerada a primeira Loja da Escócia e Kilwinning a
segunda, Sterling seria a terceira "em consequêcia de antigos privilégios".
Esta é a primeira vez na história em que se fala de Lojas como corpos de
pedreiros organizados.


Os Vigilantes (Mestres) de cada Loja. são responsáveis perante as
autoridades pelos pedreiros sujeitos à sua loja, e regula a eleição desses
Vigilantes. Autoriza aos Vigilantes de Kilwinning a examinar as habilitações
dos Companheiros que estão dentro do seu distrito sobre a sua arte,
profissão ou ciência, com o objetivo de tornar tais Vigilantes devidamente
responsáveis por estas pessoas como sujeitas a eles.
Os Companheiros de Ofício na entrada, e antes de sua admissão, devem pagar à
loja dez libras com dez shillings pelo valor das luvas, estando nesta
importância incluído o valor do banquete.
Os Companheiros não poderão ser admitidos sem uma prova de habilitação
suficiente.

Os Aprendizes, na admissão, devem pagar seis libras para o
banquete em comum, ou pagam a refeição. Os Vigilantes e Diáconos da Loja de
Kilwinning devem tomar anualmente o juramento de todos os Mes~ tres e
Companheiros do Ofício confiados ao seu cuidado, e os mestres e seus
serventes ou aprendizes não devem trabalhar com cowans.
Os Estatutos de Schaw eram considerados na Escócia com a mesma veneração que
os ingleses demonstravam aos seus Old Charges. Cada Loja escocesa possuía
uma cópia desses estatutos que lhe serviam de referência e constituiam a
autoridade sob a qual eram controlados os membros operativos.
Em 1952, o Conde de Eglington doou à Grande Loja da Escócia os originais dos
Estatutos de Schaw, os quais se acham, agora, conservados na Biblioteca da
Grande Loja.


CARACTERíSTICAS DA MAÇONARIA OPERATIVA ESCOCESA

Além dos documentos descritos nas páginas que precedem, a Maçonaria
escocesa possui velhos documentos em grande qualidade inclusive livros de
atas de lojas, os mais antigos dos quais são os da Loja de Edimburgo. Esta
Loja, Guilda ou Corporação dos Construtores e Pedreiros de Edimburgo "que se
reúne em Saint-Mary's Chapell sobre a Ponte Sul" foi estabelecida em 1475.
Na Inglaterra, como já vimos, a associação que prevaleceu sobre as demais
foi a corporação, já na Escócia não se sabe se foi a corporação ou a loja
que surgiu primeiro (21). Com referência aos livros de atas J.
Marquês-Riviére escreve:

"possuimos as atas de Lojas escocesas tais como a de Saint-Mary's de
Edimburgo, que data de 1475, e cujos textos remontam até 1599. Possuímos as
atas das Lojas de Glasgow desde 1620, Scoon e Perth (1658), Aberdeen (1670).
Melrose (1674), Dumblanc (1675), Dumfries (1687). (22)
Albert Lantoine acrescenta a esta relação as atas da Loja de Kilwinning,
que começam em 1642, e diz que o historiador inglês Gould pôde, por meio
delas e dos registros ainda existentes fazer o histórico da Maçonaria
Operativa na Escócia (23) .

A Maçonaria operativa escocesa teve características próprias, as quais, tão
logo surgiu a Maçonaria especulativa, nela foram introduzidas fazendo parte
integral do ritual maçônico, como veremos.

O termo loja, por exemplo, adquire na Maçonaria Operativa escocesa uma
extensão que não possui na organização inglesa. Os Estatutos Schaw usam esta
palavra para se reterirem a uma organização sempre bem conhecida e
significando um corpo de pedreiros controlando o trabalho de construção
numa determinada cidade, o que Douglas Knoop chamou uma "Loja Territorial"
para diferenciá-la da reunião dos maçons operativos de uma loja, ou do
alpendre levantado ao lado de uma construção (24).
Por outro lado, para o talhador de pedra, os escoceses não usam o termo de
freemason, empregado pelos ingleses, dizem simplesmente mason. Para eles
freemason tem o significado de um pedreiro aceito na guilda como um homem
livre. (25)

Embora a Maçonaria seja um produto genuinamente inglês, está fora de dúvida
que os pró-homens que a organizaram, e principalmente o Dr. Anderson que era
escocês, (26) foram buscar na Escócia muitos elementos constitutivos: graus,
toques, palavra de passe, etc. Os Estatutos de Schaw devem ter sido para
eles o manancial no qual foram buscar os materiais necessários para que
fosse dada forma ao ritual e à associação na sua fase especulativa.
Posteriormente, sob o nome de Escocismo (27), outros foram encontrar bases
diferentes para mais um desenvolvimento da Instituição.

Sabe-se, por outra, que John Boswell, Laird de Auchinlech, foi recebido
Maçom, a 8 de junho de 1600, na Loja de Saint-Mary's Chapell, de Edimburgo,
sendo, portanto, o primeiro maçom "aceito" conhecido (28).

Até as perseguições de que foram posteriormente vitimas os Maçons, parecem
um legado da Maçonaria Operativa escocesa, onde já existia aversão pelo
vocábulo mason. Em sua History of the Lodge of Edimburgh, refere David
Murray Lyon que sendo Rev. James Ainslie acusado de ser Maçom, os membros do
presbitério de Kelso, a 24 de fevereiro de 1652.
deram-lhe julgamento favorável.

Existe ainda na Maçonaria escocesa a particularidade do Mason's word, a
Palavra do Maçam: Distinguia o Pedreiro habilitado do pedreiro grosseiro,
do cowan, da qual não foram encontrados vestigios nos documentos medievais
ingleses (29). O Mason's word, ao que tudo indica, era também transmitido
aos Maçom aceitos.

"As Lojas têm com certeza a Palavra, que é algo mais que uma expressão. O
Rev. Robert Kirk, Ministro de Aberfoyle, fazia uma descrição, em 1691,
dizendo que era algo "parecendo uma tradição rabínica. uma passagem
comentando Jachin e Boaz, os dois Pilares erigidos no Templo de Salomão (I
Reis, VII, 21) com a audição de algum sinal secreto, transmitido de mão
para mão, pelo qual se reconhecem e se tornam familiares um com o outro."
"A descoberta dos catecismos descritos em outra parte, confirmou que no
encerramento da cerimônia de admissão a palavra circulava entre os irmãos e
que havia dois graus distintos, o Entered Apprentice e o Companheiro ou
Mestre (30)".

O Rev. Kirk afirmou em seu livro que tinha encontrado "cinco curiosidades na
Escócia, que não são observadas em outra parte". A segunda era a Palavra do
Maçom. (31)

De acordo com o Manuscrito Edinburgh Register House de 1696, havia na
Maçonaria operativa escocesa, por ocasião da admissão dos candidatos, trotes
nos quais "o decoro era notável pela sua ausência". Também indica a
existência de dois degraus em cerimônias separadas sendo um conferido aos
entered apprentices, a outra aos Companheiros ou Mestres.

Em 1670, a Loja de Aberdeen admitia os seus aprendizes em importante
cerimônia na qual não somente lhe era comunicada a Palavra do Maçom, mas
também lhes era lida perante a Loja uma versão das Old Charges, assim como
as Leis e os Estatutos da Loja.

O mesmo manuscrito indica que a pessoa admitida na associação era
introduzida por uma versão dos cinco pontos da companhia, os quais diferiam
apenas em detalhes da que hoje possuímos (32)

Todos estes fatos, que apontam a origem de muitos usos e costumes maçônicos,
nos levam a pensar que a parte trazida pela Maçonaria operativa escocesa, na
organização da Maçonaria especulativa, foi bastante considerável. Aliás,
isto não escapou aos estudiosos do assunto, conforme se pode ler na
excelente The Pocket History of Freemasonry:

"Uma sugestão foi feita recentemente, que deu causa para muita
controvérsia, é que a ponte entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa
assentaria principalmente na Escócia, em fins da Era Operativa, e na
Inglaterra, na época especulativa. Que poderemos inferir de tão útil
informação?" (33)

NOTAS E REFERÊNCIAS
1 - Albert G. Mackey - An Encyclopaedia 01 Freemasonry - Art.
KiIwinning.
2 - Lorem~o Frau Abrines - Diccionario Enciclopedico Abreviado
de Ia. Masoneria - Artigo Kilwinning.
3 -- Fred L. Pi.1{e & G. Norman Knight - The Freemason's l'ocket;
Reference Book - F. Muller Ltda. - London - 1955, pág. 152.
4 - Albert Lantoine - La Franc-Maçonne.rie chez ElIe - EmlIe
Nourry - Paris - 1925, pág. 126.
6 - 1<'red L. Pike & G. Norman Knight - The Pocket History 01
Freemasonry - F. Muller Ltd - London - 1963 pág. 172.
7 - Paul Naudon - Origines Religieuses et Corporatives de Ia
Franc-Maçonnerie, pág. 223.
8- J. Berteloot - Les Francs-Maçoll!1 devant I'Histoirc - J!:d. du
Monde Nouveau - ParIs - 1949 ,págs. 41-42.
Referindo-se à Capela de Roslin, o The Freemason's Po
cket Refel'ence Book observa:
"A Pedra fundamental da Capela de Roslin foi colocada em
1446 e a construção foi concluía da antes do fim do século. O
fundador, Slr William Saint-Clair faleceu antes da conclusão
da obra e foi enterrado na capela' inacabada que e um museu
de trabalho arquitetura!. Conta-se que um dos maís lindos pI
lares foi esculpido por um aprendiz durante a auzência do seu rp.estre que,
na sua volta, Inflamou-se de inveja, matando o
aprendiz. com um gOlpe de malhete."

Não será estranho que os rituaUstas Maçons do técula XVII! que andavam às
apalpadelas, tivessem ido buscar nesta lenda um dos elementos constitutivos
da Lenda de mram.
9 - The Pockd Bistory of Fr., pág. 173.
10 - Idem, pág. 173. - Dissemos em nossa História da Maçonaria, págs.
136-137 que, tendo resignado, a 24 de novembro de 1738, desses direitos
hereditários, que por sinal, naquela altura, não valiam mais grande coisa, a
fim de não "causar prejuízo aos interesses da corporação de que eram
membros~, um descendente dos RcsUn, também de nome William, foi eleito, a
30 do mesmo mês. primeiro Grão-Mestre da Grande Loja da Escócia que acabava
de ser constituída.
11 - The Pocket History pág. 171.
12 - Mackey - Encyclopedia - Artigo Schaw, Statutes. 13 - The Pocket
Reference Book - pág. 240.
14 ~ Aqui, Vigilante tem o sentido de Mestre da Loja, ou Venerável.
15 - Entered Apprentice, ou Aprendiz Entrado ou Introduzido, era
assim chamado aquele que depois de completar o seu aprendizado, permanecia
mais sete anos de tempo adicional, ant.es de ser feito Companheiro. Era
registrado nos livro,> da guilda, mas ainda não obtivera do seu mestre a
liberdade de trabalhar como operário por sua própria conta. Era um
estagiárI?, como diríamos atualmente. Neste estágio, era provável que
tivesse recebido a Palavra do Maçom, sendo Knoop de opInião que tal coisa
teria sido estabelecida por volta do ano 1550.
18 - Durante o período operativo, cada talhador de pedra tinha uma marca
particular que esculpia nas pedras por ele trabalhaaa.:>. Era ccmo se fora a
sua assinatura nos trabalhos que executava. As marcas eram desenhos
geométricos represE'mando cruzei, rodas, objetos os mais variados, peixes,
etc., existindo, na relação apresentada por Bernard E. J'ones, na sua obra,
sob o n.a 44, encontrada no Stcnyhurst College, uma igual ao símbolo do IV
Centenário do Rio de Janeiro.
Os Estatutos de Torgau de 1462 referem-se a uma festa solene de admissão,
quanao era permitido ao trabalhador o us() de sua marca, Que lhe era
proibido gravar antes de ser examinado e aprovado pela Mestre ou pelo
Vigilante da. Loja. Segundo o The Pocket Reference Book. pág. 1'7'2, a Loja
de Aberdeen possui um bonito livro de Marcas, datando de 1670.
17 - É o operário grosseiro que não possui o Mason's Word. Poste
riormente, o vocábulo adquiriu o sentido de "profa.nc".
18 - Bemard E. J'ones - Freemasons Guide and Compendium pá
ginas 128-129.
19 - Idem, pág. 129.
20 - The Pocket History, pág. 289.
21 - Bernard E. J'ones, ob. cito pág. 125.
22 - J. Marquês-Riviêre - Bistoire de La F. M. Fran~aise, pág. 40. 23 - A.
Lantoine - La F. M. chez ElIe, pág. 177.
24 - B. E. J'ones, ob. cit., páJt. 125.
25 - Idem, págs. 124-125.
26 - De accrdo com A. Lantoine, ob. cito pág. 127, consta dos re
gistros da Loja de Edimburgo que, em data de 24 ae agosto do
1721, O Dr. J. T. Desaguliers, mestre geral das Lojas da Inglaterra, foi
admitido a participar dos seus trabalhos.
27 - As origens do F.scocismc, produto genuinamente francês, ainda continuam
nebulosas. Além de outras razões pode r-er acrescentado este fata.
Sabendo-se que Anderson fei o compilador e De-sagulJers o inspirador das
Constituições de 1723, regulamentando a Maçonaria E'speculativa inglesa, e
que para isso conseguir viram-se obrigados a buscar numeroscs elementos na
Maçonaria
escocesa, os adversários da Grande Loja de Londres, políticos
ou adeptos dos altos graus, batizaram este tipo de Maçonaria. de Maçonaria
escecesa,. d~cantando-a como superior à Maçonaria inglesa, que propugnava
pela manutenção Exclusiva do sistema de três graus da Maçonaria operária e
conseqüent~mente plebeus.
28 - D. Murray-Lyon, em sua Bistory of the Lodge 01 Edinburgh apresenta um
fac-simile da assinatura de Boswell, acompanllada de um símbclo; uma cruz
dentro de um cículo. o que reveJ...'), a sua Qualidade de Rosacruz, pág. 55.
29 - The Pocket Bistory of Freemasonry, pág. 55. 30 - Idem, págs. 174-175.
31 - Bernard E. Jones - ob. cito pág. 132.
32 - The pocket Bistory, págs. ]75-176.
83 - Idem, pág. 57.


NICOLA ASLAN
A MAÇONARIA OPERATIVA

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